Pecam
pelo excesso e morrem pela falta
Confiança:
consultor político aponta os erros e os acertos dos candidatos em
campanha eleitoral; discurso, imagem e coerência fazem parte do mesmo pacote
Já é
intensa a exposição dos candidatos a prefeito e vereadores devido à propaganda
eleitoral
no rádio e na TV. Esse período, que se estende até as vésperas das eleições
municipais, com primeiro turno marcado para 7 de outubro, é definitivo para conquistar
a simpatia, a confiança e o voto dos cidadãos. Para muitos, é quando a campanha
começa para valer.
Segundo o
consultor político João Miras, com mais de 25 anos de atuação na área e um dos
principais nomes da comunicação eleitoral no Brasil, esse é o principal momento
para projetar a imagem positivamente perante os eleitores, é a hora do
julgamento popular. “Projetar imagem positiva
é função de qualquer ser humano sempre, ainda mais do ente público”, ressalta.
Miras,
que é membro da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos (Alacop) e
da Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abcop), fala à Metrópole
sobre a
importância da imagem e de como as formas de se vestir e se comportar são
importantes, porém, em menor escala do que competência e caráter. Ele aborda também
a necessidade extra dos candidatos de Campinas de despertar nos eleitores a fé
e a esperança de que, dessa vez, pode ser diferente.
Metrópole
– Até que ponto a imagem do candidato influencia o eleitor nas urnas?
João
Miras – Política é imagem projetada. É a lógica das sociedades de massa. Ela
não existiria sem a comunicação, mas a comunicação existe sem ela. É a
comunicação
que
delineia, edifica e constrói imagens. No caso das representações públicas, a
imagem influencia porque um ser humano, como um produto, tem atributos relacionados
tanto a seus conhecimentos como a seus valores e princípios. Os primeiros referem-se
à competência, que credenciam esse representante no campo do conhecimento; os
outros são atributos de caráter, relacionados aos valores humanos.
As
pessoas precisam se identificar com seus representantes. Existe essa influência
da imagem e o agente político deve atender às expectativas dos seus
representados nesses dois campos.
Quais são
as principais características que o candidato deve ter para encantar e
conquistar
os eleitores?
São aquelas
referentes às suas capacidades técnicas e aos valores relevantes da sociedade.
Alguns exemplos de valores em evidência são honradez e respeito ao dinheiro
público, capacidade de elaborar bons projetos e apresentar boas ideias. Humildade
e receptividade das aspirações das pessoas menos favorecidas também são fundamentais
no atual momento histórico da sociedade.
Como a
maneira do candidato se vestir impacta na sua imagem?
A
vestimenta é o laço do embrulho e ele é a imagem projetada com esses atributos que
acabei de citar. Você não pode ter um presente como um livro com um laço que
não seja compatível com ele. Não é tão importante a roupa quanto o atributo, mas
ela também tem uma representação na composição da arte de finalização da imagem
do candidato.
Quais são
os trajes ideais para os candidatos de ambos os sexos usarem durante a campanha?
Quais devem ser evitados?
A pessoa
tem que ser a mais autêntica possível. Como dizia Costanza Pascolato (consultora,
colunista e autora de livros sobre moda), estilo é conseguir aproximar o que a
gente veste do que a gente é. O mais importante é cada um se vestir como gosta
e se
sente bem. Assim, consegue passar uma boa imagem. Você não pode ter um sindicalista
vestido de terno, um médico de terno e gravata, nem um advogado de shorts e
meia soquete. O candidato deve ter senso de ridículo. O resto tudo passa, o povo
brasileiro é alegre e tolerante.
Vivemos
tempos em que “mulheresfrutas” usam a sensualidade e alguns apostam no deboche
para ganhar o eleitor. Em cidades do Interior, como Campinas, esse estilo atrai
votos?
Esses
oportunistas sempre podem assimilar uma espécie de voto de protesto das pessoas
que perderam a fé nos políticos tradicionais. O ideal seria que não fosse
assim.
Tomar
cafezinho em bar da periferia e andar de ônibus ainda são atitudes que agradam
o eleitorado?
Sim. O
corpo a corpo é importante pois é o momento em que o candidato está mais próximo
do eleitor, é quando ele tem a possibilidade de apresentar, argumentar e deixar
claro suas intenções para ser escolhido como representante na câmara ou na
prefeitura.
Embora a
participação das mulheres na política esteja em ascensão, ainda é
desproporcional em relação à masculina. Em sua opinião, no Brasil ainda se
considera política uma atividade mais compatível com os homens?
A questão
de gênero está superada em todas as faixas de atuação humana na sociedade
moderna. Há menor número de mulheres porque política, como qualquer atividade,
é militância, experiência e tempo de participação. De duas ou três gerações
pra cá é
que o sexo feminino tem participado mais ativamente. É meramente um fenômeno
sociológico que vai se corrigindo com o passar do tempo e a consolidação da
história. Prova disso é que temos uma presidente mulher.
Como a
forma de se comunicar do candidato faz com que ele seja preferido pelos
eleitores?
Quando
ele fala a verdade. Mesmo as pessoas mais simples, ainda que não tenham discernimento
acadêmico, têm sensibilidade afetiva, intuição e inteligência emocional para
detectar falhas de caráter do candidato. Os políticos têm se prejudicado muito
por isso. Em geral, eles são oportunistas, mas a população tem separado bem o
joio do trigo. A minha recomendação é que sejam verdadeiros e francos.
Atualmente,
quais são os principais erros dos políticos no contato e na comunicação com o
eleitorado?
O excesso
é o principal erro. Muitos acham que exagero na comunicação é o que vai dar
resultado. Às vezes, a estratégia minimalista, reduzida, é mais eficiente. Pode
bastar um único folheto com boa biografia para se conquistar o voto. Não é preciso
uma parafernália de comunicação. Os políticos pecam pelo excesso e morrem pela
falta.
Campinas
teve dois prefeitos cassados no último mandato e vereadores aprovaram um
aumento abusivo aos próprios salários. Isso aumenta a dificuldade de conquistar
os eleitores do município?
Claro que
o desgaste que alguns sofrem por conta de seus próprios atos acaba manchando a
imagem de todos os políticos, e isso dificulta a consolidação, a construção desses
novos agentes porque a desconfiança paira sobre o aspecto local. Mas é função dos
candidatos despertar a esperança e a fé nas pessoas, consolidar atributos de
confiabilidade, defender teses de interesse geral e avançar nas conquistas de
condições melhores para todos. A política é uma paixão que se renova. Não morre
nunca porque a população tem suas necessidades e o político só existe para
intermediar isso e a execução dos recursos públicos.
“Muitos acreditam que exagero na comunicação é o que vai dar resultado.
Às vezes, a estratégia minimalista, reduzida, é mais eficiente. Pode bastar um único
folheto com boa biografia para se conquistar o voto. Não é preciso uma
parafernália de comunicação”
Fonte: matéria de Karina Fusco especial para a Metrópole, publicada em 09/09/2012.
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