9 de set. de 2012

Erros e Acertos.


Pecam pelo excesso e morrem pela falta
Confiança: consultor político aponta os erros e os acertos dos candidatos em campanha eleitoral; discurso, imagem e coerência fazem parte do mesmo pacote

Já é intensa a exposição dos candidatos a prefeito e vereadores devido à propaganda
eleitoral no rádio e na TV. Esse período, que se estende até as vésperas das eleições municipais, com primeiro turno marcado para 7 de outubro, é definitivo para conquistar a simpatia, a confiança e o voto dos cidadãos. Para muitos, é quando a campanha começa para valer.
Segundo o consultor político João Miras, com mais de 25 anos de atuação na área e um dos principais nomes da comunicação eleitoral no Brasil, esse é o principal momento para projetar a imagem positivamente perante os eleitores, é a hora do julgamento popular. “Projetar imagem positiva é função de qualquer ser humano sempre, ainda mais do ente público”, ressalta.
Miras, que é membro da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos (Alacop) e da Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abcop), fala à Metrópole
sobre a importância da imagem e de como as formas de se vestir e se comportar são importantes, porém, em menor escala do que competência e caráter. Ele aborda também a necessidade extra dos candidatos de Campinas de despertar nos eleitores a fé e a esperança de que, dessa vez, pode ser diferente.

Metrópole – Até que ponto a imagem do candidato influencia o eleitor nas urnas?
João Miras – Política é imagem projetada. É a lógica das sociedades de massa. Ela não existiria sem a comunicação, mas a comunicação existe sem ela. É a comunicação
que delineia, edifica e constrói imagens. No caso das representações públicas, a imagem influencia porque um ser humano, como um produto, tem atributos relacionados tanto a seus conhecimentos como a seus valores e princípios. Os primeiros referem-se à competência, que credenciam esse representante no campo do conhecimento; os outros são atributos de caráter, relacionados aos valores humanos.
As pessoas precisam se identificar com seus representantes. Existe essa influência da imagem e o agente político deve atender às expectativas dos seus representados nesses dois campos.

Quais são as principais características que o candidato deve ter para encantar e
conquistar os eleitores?
São aquelas referentes às suas capacidades técnicas e aos valores relevantes da sociedade. Alguns exemplos de valores em evidência são honradez e respeito ao dinheiro público, capacidade de elaborar bons projetos e apresentar boas ideias. Humildade e receptividade das aspirações das pessoas menos favorecidas também são fundamentais no atual momento histórico da sociedade.

Como a maneira do candidato se vestir impacta na sua imagem?
A vestimenta é o laço do embrulho e ele é a imagem projetada com esses atributos que acabei de citar. Você não pode ter um presente como um livro com um laço que não seja compatível com ele. Não é tão importante a roupa quanto o atributo, mas ela também tem uma representação na composição da arte de finalização da imagem do candidato.

Quais são os trajes ideais para os candidatos de ambos os sexos usarem durante a campanha? Quais devem ser evitados?
A pessoa tem que ser a mais autêntica possível. Como dizia Costanza Pascolato (consultora, colunista e autora de livros sobre moda), estilo é conseguir aproximar o que a gente veste do que a gente é. O mais importante é cada um se vestir como gosta
e se sente bem. Assim, consegue passar uma boa imagem. Você não pode ter um sindicalista vestido de terno, um médico de terno e gravata, nem um advogado de shorts e meia soquete. O candidato deve ter senso de ridículo. O resto tudo passa, o povo brasileiro é alegre e tolerante.

Vivemos tempos em que “mulheresfrutas” usam a sensualidade e alguns apostam no deboche para ganhar o eleitor. Em cidades do Interior, como Campinas, esse estilo atrai votos?
Esses oportunistas sempre podem assimilar uma espécie de voto de protesto das pessoas que perderam a fé nos políticos tradicionais. O ideal seria que não fosse assim.

Tomar cafezinho em bar da periferia e andar de ônibus ainda são atitudes que agradam o eleitorado?
Sim. O corpo a corpo é importante pois é o momento em que o candidato está mais próximo do eleitor, é quando ele tem a possibilidade de apresentar, argumentar e deixar claro suas intenções para ser escolhido como representante na câmara ou na prefeitura.

Embora a participação das mulheres na política esteja em ascensão, ainda é desproporcional em relação à masculina. Em sua opinião, no Brasil ainda se considera política uma atividade mais compatível com os homens?
A questão de gênero está superada em todas as faixas de atuação humana na sociedade moderna. Há menor número de mulheres porque política, como qualquer atividade, é militância, experiência e tempo de participação. De duas ou três gerações
pra cá é que o sexo feminino tem participado mais ativamente. É meramente um fenômeno sociológico que vai se corrigindo com o passar do tempo e a consolidação da história. Prova disso é que temos uma presidente mulher.

Como a forma de se comunicar do candidato faz com que ele seja preferido pelos eleitores?
Quando ele fala a verdade. Mesmo as pessoas mais simples, ainda que não tenham discernimento acadêmico, têm sensibilidade afetiva, intuição e inteligência emocional para detectar falhas de caráter do candidato. Os políticos têm se prejudicado muito por isso. Em geral, eles são oportunistas, mas a população tem separado bem o joio do trigo. A minha recomendação é que sejam verdadeiros e francos.

Atualmente, quais são os principais erros dos políticos no contato e na comunicação com o eleitorado?
O excesso é o principal erro. Muitos acham que exagero na comunicação é o que vai dar resultado. Às vezes, a estratégia minimalista, reduzida, é mais eficiente. Pode bastar um único folheto com boa biografia para se conquistar o voto. Não é preciso uma parafernália de comunicação. Os políticos pecam pelo excesso e morrem pela falta.

Campinas teve dois prefeitos cassados no último mandato e vereadores aprovaram um aumento abusivo aos próprios salários. Isso aumenta a dificuldade de conquistar os eleitores do município?
Claro que o desgaste que alguns sofrem por conta de seus próprios atos acaba manchando a imagem de todos os políticos, e isso dificulta a consolidação, a construção desses novos agentes porque a desconfiança paira sobre o aspecto local. Mas é função dos candidatos despertar a esperança e a fé nas pessoas, consolidar atributos de confiabilidade, defender teses de interesse geral e avançar nas conquistas de condições melhores para todos. A política é uma paixão que se renova. Não morre nunca porque a população tem suas necessidades e o político só existe para intermediar isso e a execução dos recursos públicos.

Muitos acreditam que exagero na comunicação é o que vai dar resultado. Às vezes, a estratégia minimalista, reduzida, é mais eficiente. Pode bastar um único folheto com boa biografia para se conquistar o voto. Não é preciso uma parafernália de comunicação

Fonte: matéria de Karina Fusco especial para a Metrópole, publicada em 09/09/2012.

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