O
recado mais claro que as urnas ofereceram nestas eleições
municipais foi um fenômeno registrado em todo o
País, com maior ou menor intensidade. O alto número de
votos brancos, nulos e abstenções chamam a atenção
para um comportamento dos eleitores que preocupa
e lança questões a serem analisadas no processo de
amadurecimento democrático.
O
voto obrigatório é uma instituição sempre exaltada como
o instrumento ideal para manter o direito cívico dos
cidadãos, incrementar a responsabilidade em relação
à escolha dos representantes e,
na letra da lei, para
dar maior alcance e legitimidade ao
processo democrático.
Estendido
até mesmo aos
analfabetos — por iniciativa
de José Sarney, diga-se
— o voto compulsório deveria
ser encarado como um
ato natural, um direito exercido
naturalmente pelos cidadãos,
e não uma obrigação indesejável. Na realidade, é
claro o perfil dos votantes e a relação com os candidatos: é
possível mesmo perceber a relação de identidade entre
os representantes e o nível social ou de escolaridade de
seus eleitores.
É
possível inferir alguns motivos que levariam os eleitores
a abrir mão de um direito pelo qual muito se lutou.
A descrença na classe política, a falta de perspectiva de
que um voto é capaz de mudar o status quo, a irresponsabilidade
pessoal, que repassa para uma maioria
o peso de cumprir com o papel ativo na política. É,
infelizmente, o caso do eleitor que prefere ir à praia
do que comparecer às urnas (ao lado, para ampliar basta clicar na figura).
O
voto facultativo seria, em princípio, uma forma de qualificar
a democracia. O verdadeiro engajamento, a consciência
crítica e cívica, o desejo de fazer diferença devem
prevalecer para que cresça a legitimidade das escolhas.
Mas não basta falar apenas na desobrigação do
voto. O sistema proporcional que resulta no cálculo dos
coeficientes eleitorais privilegia a estrutura ideológica dos
partidos, mas esses se transformaram em meras agremiações
políticas destinadas a cumprir prazos de
filiação e se transformaram em balcão de negócios.
É
preciso avançar em uma ampla reforma política que
vem sendo adiada há décadas e está nas mãos justamente de
quem não tem o menor interesse em mudar as
regras do jogo. Apostar no avanço do espírito crítico da
população, o que se atinge com educação de qualidade.
Uma série de requisitos que, infelizmente, depende
de muito mais que a liberação do voto obrigatório.
Fonte: Editorial do Correio Popular, publicado no dia 15/10/2012.
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