5 de mar. de 2012

Você se lembra?

Hoje trago uma reflexão através de fragmentos do texto de Roberto Pompeu de Toledo, publicado na revista Veja nº 2259, intitulado "Eleições e cidades".
A cidade é a maior das invenções humanas.
Elas estão aí há tanto tempo que até parecem ter nascido por si sós, brotadas na superfície do plane­ta como acidentes geográficos. Mas são invenções, surgidas no momento da aventura humana em que se concluiu pelas vantagens de viver junto, com relação à vida isolada no campo — mais seguran­ça, mais facilidades de comércio e de aprendizado, mais possibilidades de lazeres e de prazeres.
Nas cidades antigas do Ocidente nasceram os fóruns e nas do Oriente os mercados. Diferem em que os primeiros apontam mais para a discussão de assun­tos públicos e privados e os segundos mais para as relações económicas, mas são instituições assenta­das no mesmo princípio: os benefícios da troca, seja de ideias, seja de mercadorias.
A cidade, sen­do o locits por excelência da convivência, é o locus por excelência da troca — a troca afetiva, inclusi­ve. Cidade é artigo precioso demais para, em elei­ções municipais, suas especificidades serem es­quecidas em favor de disputas e assuntos outros.
Prefeito é cargo recente, no ordenamento político-administrativo brasileiro.
Durante os quatro séculos anteriores, as ci­dades eram regidas pela Câmara Municipal. Na colónia, as câmaras eram os únicos organismos cujos integrantes eram eleitos. As eleições eram frequentemente fraudadas, ocasionavam sangren­tas disputas e delas participavam poucos eleitores. Mesmo assim, proporcionavam um espaço de de­mocracia.
Daí decorre que a figura do vereador pode ostentar nobre origem. É o primeiro político brasileiro, e a ele cabia aquilo que etimologicamente indica a palavra "político": cuidar da "po­lis".
No entanto, nenhuma instituição sofre hoje maior desprestígio do que as câmaras de vereado­res. São locais que a desatenção da imprensa e dos órgãos fiscalizadores torna ideais para a prática da corrupção e da fisiologia. O problema começa no eleitor, que mal sabe em quem está votando e no dia seguinte já esqueceu em quem votou.
Reco­mendação: que o eleitor grude o nome de seu esco­lhido na geladeira ou no espelho do banheiro. E que conserve grudado até a eleição seguinte.
Até mais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário